A Informação Passada a Limpo

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O RIO CURÍ AINDA PEDE SOCORRO...

Por Naldo Blandtt

UM POUCO DE HISTÓRIA
É importante entendermos nossa história, para a partir dela contextualizarmos a realidade socioeconômica e ambiental de modo que possamos fazer avaliações fundamentadas num sistema provativo para os desafios atuais. O ano de 2008 é uma referência de caráter social importantíssimo para a sociedade luziense, especificamente por ser o ANIVERSÁRIO DE 50 ANOS DA CRIAÇÃO DO ACAMPAMENTO PRÓXIMO AO RIO CURÍ, pelo engenheiro Dr. Tabosa (responsável pela construção da BR-316 no trecho entre a cidade de Capanema e o rio Gurupí) e também pela CHEGADA DO PRIMEIRO MORADOR A FIXAR-SE NESSA ÁREA, O SENHOR MANOEL GAIA E SUA FAMÍLIA VINDA DO NORDESTE seguindo o pico demarcatório da rodovia Pará-Maranhão no ano de 1958, o que tem como referência o nascimento da sociedade luziense.
Segundo relatos orais dos habitantes mais antigos, o senhor Manoel Gaia, fixou residência onde atualmente encontra-se a travessa D. Pedro I, conhecida popularmente como “Rua do Curí”. E o acampamento do engenheiro Dr. Tabosa, foi fixado às margens do pico da, então estrada em construção, BR 316, próximo ao rio Curí que, servia de fonte de água para os trabalhadores, a uma distância média de 150 metros correspondente ao local onde hoje se encontra o Centro de Cultura Popular, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Rádio Curí FM.

O RIO CURÍ
A intenção desse artigo é referendar o início dos impactos sócio-ambientais ocorridos no rio Curí desde o início da urbanização do município e a historia da luta social liderada por movimentos ambientais e/ou religiosos católicos desarticulados sem conhecimentos ambientais, na luta pela sobrevivência do referido rio, com boas intenções, porém sem sucesso em suas práticas.

O Curí é um dos principais afluentes da margem direita da bacia hidrográfica do Caeté, que desemboca na península da ilha de Ajuruteua no município de Bragança. A nascente do rio Curí localiza-se dentro do município de Santa Luzia, distante aproximadamente nove quilômetros (em linha reta) da sede. Embora localizada na área de relevo acentuado da bacia hidrográfica do rio Guamá e mais próxima desta, sua nascente tem correnteza contrária, na direção da hidrografia do Caeté caracterizando um vale, o que denomino de “vale do Curí”, com características de baixo relevo bastante acentuadas na cidade de Santa Luzia entre os conhecidos km 47 e 48 ocasionado pela passagem do rio Curí.

Desde 1958 que o rio Curí sofre com o processo constante de impactos ambientais iniciados com a devastação da mata ciliar, sendo mais crítico na área urbana onde esses impactos atingiram nível três, ou seja, a penúltima na escala de impactos ambientais, caracterizando-se como gravíssimos, pois não há mata ciliar e nenhum tipo de vegetação secundária nas margens do rio, provocando duas fases distintas no período de chuvas: uma relacionada às enchentes (que infelizmente é apreciada pela sociedade luziense como um atrativo bonito), e a segunda de médio prazo que em vez de infiltrar-se no solo, a água do rio é escoada sobre a superfície formando enormes enxurradas que não permitem o bom abastecimento do lençol freático, promovendo a diminuição do armazenamento da água nas cabeceiras próximas da área urbana de Santa Luzia, que seriam fontes do rio Curí.
As conseqüências do rebaixamento do lençol freático não se limitam as nascentes, mas também aos córregos e riachos abastecidos pelo Curí. As enxurradas, por sua vez carregam partículas do solo provocando o processo de erosão que se amplia pelo acúmulo de lixo e diversos tipos de resíduos. Como não são controladas, já caracterizam as temidas voçorocas do rio Curí, sobre a área urbana de Santa Luzia. A voçoroca é formada pela combinação de processos de erosão que demonstram um desequilíbrio do ambiente, o que já caracteriza essa área especifica do rio Curí.
As conseqüências da voçoroca do rio Curí, na área urbana de Santa Luzia do Pará, quem mais sofre são os peixes que praticamente não encontram mais esse habitat, ampliando os impactos ambientais e a negligência atrópica nessa área. O nível três na escala de impactos ambientais na passagem do rio Curí sobre a área urbana de Santa Luzia, tem conseqüências para ambos os lados: as mananciais diminuem a quantidade de peixes, e na direção da fluência do Caeté, as matas ciliares estão sendo substituídas por capoeiras fragilizando o meio ambiente, pois as espécies arbóricas apresentam diferenciações sutis que só são percebidas pela taxonomia (as espécies Meliaceae, Euphorbiaceae, Moraceae, Lauracea, entre outras, fazem parte do grupo de espécies de mata ciliar, e infelizmente nao existentes mais na vegetação das margens do rio Curi, na área urbana de Santa Luzia) fazendo com que suas funções ecológicas que permitem o equilibrio do habitat, os ciclos vegetativos e a quimica ambiental se alterem.
As ações atrópicas se fortaleceram a medida que a vila de Santa Luzia crescia sem planejamento ambiental agredindo brutalmente o rio Curí, com o crescimento urbano desordenado adotando práticas desfavoráveis e ambientalmente incorretas pelos moradores locais especialmente entre as ruas D. Pedro I e Magalhães Barata e o “Bairro Novo” onde passa um córrego abastecido por degetos sanitários e outros resíduos que caracterizam a poluição fisioquímica do rio Curí piorada pela localização do matadouro da cidade instalado nas suas margens há mais de três décadas, onde resíduos orgânicos e não orgânicos são transferidos para suas água, fortalecendo o desequilibrio ambiental com práticas irregulares. Atualmente a Prefeitura Municipal está transferindo o matadouro da margem do Curí para um local mais adequado e fora da cidade (km 39), isso já é um avanço importante rumo a diminuição dos impactos ambientais sobre o rio Curí, contudo, muitas outras ações precisam ser realizadas para sua revitalizaçõa que se faz urgente necessária.
Os períodos de estiagem no rio Curí, infelizmente ja existem, e são três vezes maiores que o período comum da Amazônia, provocados pela ausência de um rio que fortaleça a disposição de água sobre o leito, e consequentimente sobre os lençóis freáticos. Nos períodos médios de agosto a novembro o rio Curí, se transforma num córrego, e infelizmente num futuro próximo se transforme num rio peneiro, ou seja, que seca num determinado período do ano. A sociedade luziense já está pagando um alto preço por isso: nesse mesmo período de estiagem que vai de agosto a novembro, a água disposta para a zona urbana é reduzida, porque o lençol freático ultilizado pela COSANPA é um dos manancias do rio Curí, distante a três quilômentros da cidade, o que caracteriza um dos resultados do impacto ambiental gerados sobre o rio Curí.
A medida que passa o tempo mais o rio Curí sofre com as agressões e atos de abandono fazendo com que a maioria dos jovens da atualidade aprendam que o rio não tem importância para a cidade de Santa Luzia. Infelizmente isso é o reflexo das consequências sociais e do desemparo ambiental com o rio que fez nascer uma cidade às suas margens, pois estes jovens, que são o futuro da sociedade luziense, não compreendem a luta na defesa do rio, e alguns interpretam como jogo politico-partidário, o que é uma pena. Contudo, a juventude das decadas de 80 e 90, lutaram em defesa do rio Curí, por que ainda o conheceram como um rio caudaloso de águas cristalinas onde era possível tomar banho, pescar, usar canoas e curtir fortes emoções naqueles tempos românticos em que prevalecia um importante preceito humano: o equilibrio da natureza depende das ações do homem.

A Pastoral da Juventude (movimento social católico) nas décadas de 80 e 90 tentou por algumas vezes, sem conhecimentos cientificos, plantar mudas na tentativa de reconstruir a mata ciliar do Curí durante a realização de alguns eventos de grande importância socio-cultural como Canto da Terra e dança SALUDOPÁ onde foram apresentadas reividicações e soluções para a defesa da sobrevivência do nosso rio. O grupo Raizes Culturais (grupo de identidade folclórica e cultural composta por jovens da sociedade local) em seus encontros semanais tinha a defesa do rio Curí como uma das pautas de discussões permanentes o que culminou com a criação de um movimento denominado S.O.S Rio Curí, que tinha a intenção de defendê-lo. Ironicamente, a primeira rádio de Santa Luzia chama-se Curí FM, nasce uma rádio enquanto nosso rio agoniza pedindo socorro.

Legalmente a mata ciliar é uma área de preservação permanente, que segundo o Código Florestal (Lei n.° 4.771/65) deve-se manter intocada. Caso esteja degradada deve-se prever a imediata recuperação, e o titular definitivo da área que não cumprir essa exigência legal poderá ser punido com multas expedidas pelo IBAMA e/ou Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A lei existe há 40 anos, mas nunca foi aplicada no caso do rio Curí. Toda vegetação natural (arbórea ou não) ao longo das margens dos rios, nascentes e de reservatórios deve ser preservada. De acordo com o artigo 2° dessa lei, a largura da faixa de mata ciliar a ser preservada deve ser proporcional à largura do curso d'água, portanto na área urbana de Santa Luzia, as dimensões das faixas de mata ciliar às margens do rio Curí deveriam ser de 30 metros.

Há tempo para salvar o rio Curí? Sim. Contudo, a cada dia que passa, sua situação fica mais grave devido aos enormes impactos ambientais que o ameçam. Se não tomarmos atitudes com a intenção de salvá-lo agora, corremos o risco de perder para sempre nosso amado rio Curí, berço da “civilização luziense”, que sofrerá graves conseqüências sociais devido à morte do nosso rio.

VAMOS SALVAR O CURÍ, AINDA TEMOS TEMPO SIM...

Um comentário:

Anônimo disse...

É muito bom mesmo que haja essa preocupação com esse rio,afinal,a situação dele está cada vez mais crítica quanto ao processo de eutrofização natural e antrópica...
Mas digo uma coisa:não adianta só falar, é necessário que a secretaria de meio ambiente tome alguma atitude diante dessa situação.

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